
"Era quarta feira e eu estava voltando do trabalho...rádio ligado e eu pensando nos problemas conjugais, no bem estar do meu filho, nos meus afazeres domésticos... Mais uma vez eu não poderia ficar com meu filho a noite, trabalhei muito e estava cansada,decidi passar em algum lugar, comprar qualquer tipo de brinquedo e dá-lo ao pequeno que com certeza estava chorando,me esperando, pedindo atenção ao pai que provavelmente estava sentando à frente da televisão esperando o início do jogo.
Nada melhor que uma fila no transito para adiantar minha vida. Eram daquelas paradas. Liguei para casa explicando que iria me atrasar e ouvi meu marido brigando com meu filho, dizendo que era pra ele ficar quieto e deixar de manhã, sinceramente isso melhorou ainda mais o meu dia.
Não sei ainda o porquê mas comecei a lembrar da minha infância, do que fazíamos quando minha mãe se atrasava... Meu pai sentava comigo e com meus irmãos e ficava a contar histórias de seres imaginários, seres que me encantavam e, confesso, ainda me encantam. Senti uma certa culpa, eu estava deixando de lado essas “pequenas coisas” que são importantíssimas.... Onde já se viu, comprar um presente pro filho pensando em deixá-lo brincando sozinho... Comecei a repensar os meus atos e cheguei a conclusão que os adultos de hoje não sabem viver.
Ir no cinema para ver um filme infantil sem levar criança alguma, é “idiota”. Deus o livre se eu falo para meus amigos que gosto de ver Alvin e os esquilos... No mínimo vão falar “ah... quem é que vê Alvin e os esquilos?” . “Eu vejo e daí? Algo contra?” Queria eu ter coragem de falar isso, mas não tenho nem coragem de admitir que gosto de tal estória. Quantas vezes deixei de sair por vergonha... vergonha de chamar meus amigos para um barzinho com karaokê, vergonha de convidar meu marido para um parque de diversão só pelo simples fato de dar uma volta na roda gigante comendo algodão doce...
A sociedade nos prende muito e nos limita também. De tal idade à tal idade se pode fazer isso, depois você já faz parte de outra faixa etária e tem que agir de forma completamente diferente. E o que me assuta é ouvir crianças de 13 anos falando que “queriam voltar nos tempos de infância”. Infância pra mim é até o primeiro namoro sério, sendo com 16, 18 ou até 20 anos. A infância é eterna dentro de todos nós, falta apenas alguém que tenha coragem de colocá-la em prática, falta alguém que não tenha vergonha de viver.
A fila andou e quando dei conta já estava com o carro estacionado. Decidi mudar, decidi assumir quem eu sou e como eu sou. Abri a porta, meu marido vendo o jogo e meu filho chorando no chão. “Desliga a TV e vamos sair”. Ele só me olhou irritado e meu pequeno parou de chorar e veio correndo se jogar em meus braços. Falei que queria ver Alvin e os esquilos 2 no cinema, meu marido riu de mim debochadamente. Não quer ir ? Fica em casa, eu fui e meu filho também. Fazia tempos que não me divertia daquela forma. Comemos pipoca, tomamos refri, rimos de alto no filme, fomos nos brinquedos do shopping, nos lambuzamos de sorvete, levei-o na praia e nos divertimos no mar sob a luz da lua e em seguida da chuva. Quando chegamos em casa, meu marido estava dormindo na sala,em frente à televisão e, nós dois, felizes como nunca.
A partir desse dia passei a não ter medo do julgamento social. Sou feliz como uma criança pois tenho alma de criança assim como todos os verdadeiros “idiotas” que não tem coragem de assumir isso. Espero que um dia todos acordem e vejam que da vida não levamos nada, apenas a lembrança do que vivemos e, podem ter certeza que a lembrança que eu vou levar é que eu acordei a tempo de ser feliz."
"E você? Acordou a tempo de ser feliz?"(Keitty Rodrigues Vieira)
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